quinta-feira, 19 de novembro de 2015


A Teologia precisa de uma reflexão mais profunda. 
Sociólogo : Claudionor Lima 

Na história da igreja o dissenso sempre foi algo presente entre os seus pares. Até o próprio Jesus lidou com isso na convivência com os seus discípulos. Quando os mesmos colocavam em cheque se era certo ou não pagarem impostos à Cesar, a Roma. Não muito diferente, nos primeiros séculos, precisamente nos anos 325, no conselho de Nicéia, o dissenso lá estava presente  causando certo mal estar na vida dos féis daquela igreja.
É lógico que hoje, com a presença de inúmeras igrejas e orientações teológicas bem diferentes  umas das outras, torna-se muito difícil a construção de um eixo teologicamente comum a todos e, ao mesmo tempo, o entrosamento de uma teologia prática e que atendam os interesses  particulares e das denominações. Essa postura atravanca a construção de uma  reflexão teológica consolidada nos fundamentos da bíblia e também desarticula outros eixos que poderiam servir de orientação e motivação para uma unidade consensual da igreja no tocante a uma reflexão teológica mais elaborada. 
Nesse descompasso sobra o vazio e nesse vazio surgem incontáveis iniciativas politicas desfocadas do ideal do cristianismo; sem comprometimento e preocupação em elaborar uma teologia que, por essência seja bíblica, e que também não ofusque nem ignore o contexto histórico e social do Brasil
Portanto, é preciso que antes de qualquer coisa voltemos para a bíblia, a qual nos assegura bases claras e sólidas sobre essenciais reflexões  teológicas, e não sobre as carências  das temáticas individuais e sociais analisadas e  refletidas a partir de viés  restritivamente circunstanciais  e humanistas, que as vezes, se escondem por trás de algumas politicas excursas na exposição teológica da fé de “algumas igrejas”.          

                       

Terror, civilização e barbárie, por Aldo Fornazieri

Terror, civilização e barbárie, por Aldo Fornazieri

Por Aldo Fornazieri
1 – Líderes ocidentais, comentadores, analistas e jornalistas (nem todos, é verdade), não hesitaram em classificar os atentados terroristas de Paris como um conflito entre a civilização e a barbárie, entre o Ocidente livre e islamismo radical violento e desumano. A disjuntiva é de todo falsa e se funda na presunção arrogante ocidental que se pressupõe a civilização universal.
2 – O conceito de “civilização” se erigiu em contraposição ao conceito de “bárbaro”. No mundo grego, os bárbaros eram os não-gregos, os estrangeiros, particularmente os orientais, especificamente os persas. Mas os gregos não negavam que os povos não-gregos constituíssem civilizações, culturas e valores próprios.
3 – No contexto da República Romana entendia-se que Roma expressava a civilização mais avançada, uma síntese de todas as outras civilizações, a confluência superior de todas as outras histórias. Os outros povos não estavam impedidos de se civilizarem. Caberia aos romanos a missão de integrá-los à civilização. Mas durante o Império houve uma mudança do conceito de civilização. Ele foi assimilado aos romanos em oposição aos estrangeiros, aos “de fora”, em particular os germânicos. Criou-se uma polaridade excludente entre a “civilização e os bárbaros”. Estes deveriam ser submetidos ou exterminados. Na medida em que o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império ele foi investido como um componente essencial da suposição da civilização universal.
4 – O projeto Iluminista moderno, assumindo a ideia de “razão” como essência singular e distintiva da qualidade de “homem civilizado”, adota a perspectiva do Império Romano para o conceito, mas define a missão de civilizar todos os povos que estariam fora da civilização, assimilada ao Ocidente. Nesta perspectiva, o historiador italiano Giambattista Vico define a barbárie como o estado primitivo e selvagem do qual o homem foi saindo processualmente para chegar a uma ordem estatal e política civilizada. Ordem que não seria uma garantia permanente já que, Vico sugere que a Idade Média seria uma espécie de retorno à barbárie.
5 – A partir do conceito romano-iluminista de civilização entende-se que ele designa as formas mais elevadas da vida de um povo, a sua arte, a sua cultura, a ciência, a tecnologia, a religião etc. Esta noção, evidentemente, está baseada na adoção de certos valores que não são, necessariamente, universais. A partir desse assentamento, o Ocidente cristão passou, cada vez mais, a autoreferir-se como “civilização universal”.
6 – Mas, com o aparecimento das obras dos historiadores Oswald Spelgler (O Declínio do Ocidente) e de Arnold J. Toynbee (Um Estudo da História), a ideia de uma civilização única, exclusiva, etnocêntrica e universal, perdeu o sentido. Eles mostraram que as civilizações não são monoculturais, mas plurais; que não são eternas, mas que nascem, se desenvolvem, alcançam o apogeu, declinam e desaparecem. Toynbee vai relacionar 21 civilizações.
7 – Samuel Hungtinton (Choque de Civilizações) define as civilizações como entidades culturais. A civilização é o mais elevado agrupamento cultural de pessoas e o nível mais amplo de identidade cultural. Define-se quer por elementos objectivos comuns, como a língua, a história, a religião, os costumes e as instituições, quer pela auto-identificação subjectiva das pessoas. Em uma mesma civilização podem coabitar várias cultuas e várias religiões. Mas, em alguns casos, como o Islamismo, a religião é a identidade cultural mais ampla e ela define a civilização islâmica.
8 – Supor que a “guerra ao terror” é uma guerra da civilização contra a barbárie é descabido, pretencioso e arrogante e se constitui em um elemento que procura legitimar a dominação e a violência do Ocidente contra outros povos. Hungtinton aponta três pontos importantes para entender o atual contexto de conflito com o terror: a) a pretensão universalista do Ocidente fomenta guerras civilizacionais e a violência e isto poderá levar a uma guerra de grandes proporções. O Papa Francisco afirma que já está em curso a III Guerra Mundial; b) o declínio relativo do Ocidente estimula processos de desocidentalização de outros povos; c) pela primeira vez na história as relações internacionais são, ao mesmo tempo, multipolares e multicivilizacionais. A paz mundial pressupõe o reconhecimento desta realidade e o diálogo intercivilizacional, enfatizando os elementos e valores comuns às civilizações. 
9 – O terrorismo não pode ser aceito, apoiado ou desculpado por perpetrar uma violência gratuita contra inocentes e por toda a sua inconsequência moral e política. Mas, como já observaram alguns intelectuais, o terrorismo precisa ser compreendido. Sartre, escrevendo a respeito, afirmou o seguinte: “Eu reconheço que a violência, sob qualquer forma que se manifeste, é um fracasso. Mas um fracasso inevitável, porque estamos num universo de violência. E, se é verdade que o recurso à violência contra a violência se arrisca a perpetuá-la, também é verdade que é o único meio de fazer com que ela cesse”. Esta última frase é polêmica, pois ela leva não só a compreender o terrorismo, mas, em determinadas circunstâncias, a apoiá-lo. Alguns intelectuais que advogam a necessidade de compreender o terrorismo, sustentam que é preciso apostar no caminho da não-violência para quebrar o círculo da violência que vem sendo uma constante na história da humanidade.
10 – Talvez, de fato, estejamos vivendo o fracasso da ideia da construção de uma civilização humana, mesmo que ela comporte a perspectiva da integração multicultural e multicivilizacional. A violência entranhada na natureza humana, o antropocentrismo destrutivo da natureza e de outras espécies, a ditadura dos desejos, o individualismo consumista, a destruição da esfera pública e da vida comunitária, o crescimento da desigualdade e a prevalência de um capitalismo inconciliável com a sustentabilidade ambiental e social são ingredientes assustadores que indicam o fracasso da ideia de homem do Iluminismo como ser racional que marcha para a civilização e, ao menos, confirma a tese de Jean-François Mattei, segundo a qual a civilização e a barbárie são as duas “máscaras adversárias e cúmplices, de uma mesma e única humanidade”. Para ele a barbárie está no sujeito mesmo, está em nós, não é um “acidente infeliz da história”. Esta perspectiva cética, porém, não nos desobriga de lutar pela contenção da barbárie e pela construção de um horizonte pacífico do convívio humano.
11 – O Ocidente cristão não tem legitimidade de reivindicar o universalismo civilizatório para si. Afinal de contas, em nome de seus valores, dizimou povos, massacrou os indígenas das Américas, criou a escravidão moderna, saqueou riquezas e obras de arte em toda parte, fez as duas guerras mundiais, gerou o horror do nazismo, contribui para manter bilhões de seres humanos na pobreza e na miséria etc. O atual terrorismo islâmico é filho direto do Ocidente, da destruição do Iraque, do incentivo à oposição radical na Síria da invasão da Líbia e do Afeganistão etc.
12 – O terrorismo islâmico tem causas históricas mais antigas. No final da I Guerra os árabes foram traídos pela França e Reino Unido, pelo acordo secreto Sykes-Picot, que estabeleu as respectivas zonas de influência e protetorados das duas potências européias no Oriente Médio, traindo a promessa da criação de um Estado árabe independente. A criação do Estado de Isarael, da forma em que se deu, com a humilhação dos árabes e o massacre de palestinos, é outra fonte geradora de violência que continuará ativa enquanto o problema não for resovildo. Jovens no mundo árabe e filhos de imigrantes na Europa vivem sem esperanças, na pobreza e sem futuro. As guerras provocadas pelo Ocidente no Oriente Médio geram ondas de desesperatos que invadem a Europa, morrem pelos caminhos e se afogam nos mares. É a globalização da indiferença, como disse o papa Francisco.
13 – A indignação e a consternação do Ocidente em face dos atentados de Paris são seletivas e hipócritas. No Iraque, em outros países orientais e na Áfica ocorrem atentados diários que vitimam milhares de pessoas. A América Latina é a região mais violenta do mundo. No Brasil mata-se, por ano, mais do que várias zonas de guerra juntas. O que se percebe é a indiferença e a falta de capacidade de indignação. Isto também evidencia que a barbárie está dentro de nós.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo

sábado, 3 de janeiro de 2015

Artigo - PROFESSOR MEDIADOR E A JUSTIÇA RESTAURATIVA NA ESCOLA . Por Claudionor Lima


PROFESSOR MEDIADOR E A JUSTIÇA RESTAURATIVA NA ESCOLA

                  

Há muito tempo a sociedade vem passando por variáveis processos contínuos de mudanças, ao passo que vem se exigindo maiores estudos e mais performances na construção de metodologias que, ao mesmo tempo, instrua e forme cidadãos preparados para a vida e para o mercado de trabalho. Como também, que analise e proporcione uma interferência modeladora em prol de uma sociedade menos conflitivas e mais igualitária para todos, sem, contudo, não anular nem descaracterizar os direitos individuais das pessoas. Essas mudanças, hoje, esperadas e exigidas pela sociedade moderna passam inegavelmente pela caracterização de um conjunto de ações educativas que contemple, reafirmem e enalteçam a convivência da justiça restaurativa nas escolas.
Pastor Claudionor Lima,  anguerense,
preside a Primeira Igreja Batista
na cidade de Santa Rita - Ma

Sem dúvida nenhuma essa é uma via propositiva que se abre para um novo pensar e um fazer escola menos centrada em expectativas de respostas prontas, em modelos dirigidos para reprodução dos mesmos e assimilação de caminho que se detenha a passados por conta de um futuro incerto, oscilante e duvidoso para muitos.

A alternativa do professor mediador, como agente facilitador da justiça restaurativa e ao mesmo tempo ouvidor e intermediador dos possíveis bloqueios interpostos entre o estudante e o saber clássico e formativo do indivíduo. Trata-se do mestre, ou orientador social que está inteiramente interessado nas problemáticas dos alunos. Não como dados de repúdio e reprovação ou índice para estatística. Mas como verdadeiras fontes para entender, compreender e munir-se de conhecimentos propícios para tratar o seu interlocutor a partir de suas vivências pessoas, sociais e ideológicas.

Partindo dessa ótica, nenhum problema deve ser visto, diagnosticado, analisado e concluído só a partir dele mesmo; ou em razão da proporção dos seus resultados. Mas sim, em consideração também suas possíveis fontes oriundas, ou influenciadoras de tais resultados. Posto que é impossível desassociar o indivíduo do seu contexto histórico-social, haja visto a sua vinculação com o passado e o presente da sua gente, que, a seu jeito, construíra sua história com ou não, certo déficit educacional. Deixando com isso uma lacuna para muitos dos seus progenitores, que, quando desassistidos e desestimulados; alguns terminam respondendo negativamente a proposta pedagógica de sala de aula em razão de não conseguir encontrar a conexão entre seu universo particular e os desafios dos estudos modelados para poucos.

O que lhe a aferirá, até certa forma, presumíveis desvios e desajustes  comportamentais que geram relativos problemas de ordens de indisciplina, violência, evasão escola, reprovação, desatenção.  Não obstante, dentro de uma margem possível de correção e redirecionamento educacional individualizado.

Em virtude de amenizar essas distorções prejudiciais, é que o professor-mediador, se coloca como uma segura chave para a interligação entre os desajustes comportamentais e a solidez do conhecimento. Portanto, é extremamente importante que professor mediador, além de saber ouvir o aluno e seus mundos; esse possa oportunizar ao estudante o direito de se autoanalisar enquanto cidadão fora e dentro do seu espaço estudantil, por meio de continuo diálogo. De maneira que o aluno se veja e se construa, nesse processo, como alguém altamente capaz de contribuir para si e para os outros, um ambiente de paz; assegurados pelo amor e o respeito aos valores e princípios éticos, morrais e familiares, calcados na cidadania solidária de todos para todos
Pastor Claudionor Lima